A prorrogação do Censo por mais quatro semanas está a ser recebida com revolta pelos agentes de campo, que se recusam a voltar ao trabalho sem garantias de pagamento. O tratamento desumano e a falta de dignidade imposta aos recenseadores, bem como a dívida acumulada pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), são os principais motivos da paralisação.
Por: Adão Paxi
A extensão do período de recolha de dados do Censo por mais quatro semanas está a enfrentar uma resistência inesperada. De acordo com relatos divulgados nas redes sociais e confirmados pela redação da Pontual, centenas de recenseadores recusam-se a voltar ao campo sem que o INE regularize as dívidas e ofereça condições de trabalho dignas.
Os agentes de campo queixam-se de um tratamento “desumano”, sem acesso a merendas adequadas, transporte ou qualquer outro apoio logístico básico. Muitos deles nem sequer receberam os valores prometidos para a alimentação durante o primeiro período de trabalho e estão cépticos quanto ao pagamento do salário já trabalhado.
“Não volto ao campo sem garantias. Primeiro o pagamento, depois o trabalho”, disse um dos recenseadores em declaração nas redes sociais, destacando que os recenseadores estão a organizar uma corrente de boicote até que as suas reivindicações sejam atendidas.
Além da falta de pagamento, outros agentes apontam a desinformação e o desrespeito pelos seus direitos laborais como razões adicionais para o boicote. Aqueles que se mantêm em silêncio, descritos pelos colegas como “bajuladores” ou “desinformados”, são os únicos que poderão aceitar continuar a trabalhar nestas condições, dizem fontes do sector.
A revolta entre os recenseadores levanta sérias dúvidas sobre a eficácia da prorrogação do Censo, já que muitos dos agentes que se recusam a voltar ao campo são os mesmos que, anteriormente, desempenharam um papel crucial na recolha de dados.
O INE, por sua vez, permanece em silêncio quanto ao cumprimento das suas obrigações financeiras e não comentou publicamente sobre as alegações dos recenseadores até ao momento.
Com a pressão a aumentar nas redes sociais e o risco de um boicote em massa, a continuidade do Censo torna-se cada vez mais incerta, uma vez que os agentes exigem respeito pelos seus direitos e, acima de tudo, um pagamento justo antes de qualquer nova mobilização.